Tainá Müllerさんのインスタグラム写真 - (Tainá MüllerInstagram)「#Repost• @familiaquilombo Curioso que não tenho muitas memórias nítidas da infância, mas lembro muito bem desse dia. Minha mãe estava fazendo faxina na casa de alguém e eu estava admirando a casa, o armário alto, o espelho - era um luxo que eu só via nas casas das patroas e patrões brancos da minha mãe, onde eu sabia exatamente o “meu lugar”. Trabalhar com a minha mãe era divertido, não porque alguém me ofertava brinquedos ou atenção especial, mas porque eu podia passar o dia gozando do lugar mais seguro do mundo, que era seu olhar. Ela ia no caminho explicando os limites impostos pelas patroas e chegava nos locais com aquela postura de quem estava envergonhada de ter que levar a filha e ao mesmo tempo grata pela “compreensão” da mulher. Sempre que ela chegava nas casas, tinha um canto (um banco na lavanderia ou um quartinho insalubre ao lado das lixeiras ) onde guardava suas coisas. Era ali também que eu ficava guardadinha, com olhos curiosos, me distraindo com algum objeto e ansiosa pelo retorno dela, de tempos em tempos (com sorte ela me trazia um pedaço de pão ou um biscoito que havia sobrado da refeição de alguém). E tinha o olhar das patroas: do alto da sua brancura, ora me lançavam um olhar piedoso, ora de repreensão por ter ultrapassado “o limite” e ora com aquela curiosidade com a qual a gente olha pra um bichinho exótico - eu tinha só 5 anos e entendia o “meu lugar”! No dia 2/6/20 Miguel Otávio, 5 anos, assustado, longe da mãe (que foi obrigada a deixar o filho para cuidar de um cão), foi lançado à própria  sorte por Sari Corte Real, primeira dama de uma cidade pernambucana - ele queria a mãe, foi colocado sozinho num elevador e morreu ao cair do nono andar do prédio, enquanto clamava por ela. Ele não ganhou colo, um brinquedo pra se acalmar, um mimo - ele foi assassinado pela indiferença, pela desumanização, pela inviabilização, pelo racismo!  Essa Adriana da foto correria também pra encontrar a mãe se ela ficasse longe demais! Ela também tentaria escapar do canto! Eu sei, Miguel,  o quanto é insuportável “o lugar” que  não nos abriga, que fere, que desprotege! Eu sei. . Quem se importa com as lágrimas da mãe preta?  #naofoiaci」6月13日 22時23分 - tainamuller

Tainá Müllerのインスタグラム(tainamuller) - 6月13日 22時23分


#Repost• @familiaquilombo Curioso que não tenho muitas memórias nítidas da infância, mas lembro muito bem desse dia. Minha mãe estava fazendo faxina na casa de alguém e eu estava admirando a casa, o armário alto, o espelho - era um luxo que eu só via nas casas das patroas e patrões brancos da minha mãe, onde eu sabia exatamente o “meu lugar”. Trabalhar com a minha mãe era divertido, não porque alguém me ofertava brinquedos ou atenção especial, mas porque eu podia passar o dia gozando do lugar mais seguro do mundo, que era seu olhar. Ela ia no caminho explicando os limites impostos pelas patroas e chegava nos locais com aquela postura de quem estava envergonhada de ter que levar a filha e ao mesmo tempo grata pela “compreensão” da mulher. Sempre que ela chegava nas casas, tinha um canto (um banco na lavanderia ou um quartinho insalubre ao lado das lixeiras ) onde guardava suas coisas. Era ali também que eu ficava guardadinha, com olhos curiosos, me distraindo com algum objeto e ansiosa pelo retorno dela, de tempos em tempos (com sorte ela me trazia um pedaço de pão ou um biscoito que havia sobrado da refeição de alguém). E tinha o olhar das patroas: do alto da sua brancura, ora me lançavam um olhar piedoso, ora de repreensão por ter ultrapassado “o limite” e ora com aquela curiosidade com a qual a gente olha pra um bichinho exótico - eu tinha só 5 anos e entendia o “meu lugar”! No dia 2/6/20 Miguel Otávio, 5 anos, assustado, longe da mãe (que foi obrigada a deixar o filho para cuidar de um cão), foi lançado à própria sorte por Sari Corte Real, primeira dama de uma cidade pernambucana - ele queria a mãe, foi colocado sozinho num elevador e morreu ao cair do nono andar do prédio, enquanto clamava por ela. Ele não ganhou colo, um brinquedo pra se acalmar, um mimo - ele foi assassinado pela indiferença, pela desumanização, pela inviabilização, pelo racismo!
Essa Adriana da foto correria também pra encontrar a mãe se ela ficasse longe demais! Ela também tentaria escapar do canto! Eu sei, Miguel, o quanto é insuportável “o lugar” que não nos abriga, que fere, que desprotege! Eu sei. .
Quem se importa com as lágrimas da mãe preta?
#naofoiaci


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2020/6/13

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