Você na cabeça, #GeovaniMartins, já faz umas semanas. Nem sei se você gostou do Trem Azul, ou que noção tem você do componente mineiro no seu som. Sim, som. Penso "por que ele escreve 'rolézim'?" como penso "por que Rosa escrevia 'dôido'?" Idiossincrasias de acentuação. Guimarães parecendo maluco com medo de se ler "doído". E Martins querendo explicitar que no Rio se diz "rolé". Mas doido não precisa de acento e rolézim, pela lei, levaria a tônica para o "lé". Mas algo pode ser mais mineiro do que a desinência "zim"? O fato é que, nos dois casos, não temos dúvida, ao ver as palavras impressas, de como elas soam. Ele tem 26 anos, como meu filho do meio. O qual, por gostar de ouvir Mano Brown falar (eles sempre conversavam sobre disco e neo-disco, quando esse meu filho tinha 18 anos), comentou comigo: "Pai, Mano Brown parece Guimarães Rosa. Inventa formas de falar, usa palavras, constrói frases de um jeito inventivo, bonito". O que, por sua vez, me levou a ler Rosa para Brown, a pedido deste. Lendo o livro do Geovani, muitas vezes pensei nesse nó. O primeiro conto, o do acento agudo, é tão coesamente belo como um desenredo de Rosa. A gente ouve até a subida de tonalidade no final das frases, às vezes quase à gaúcha, às vezes bem cearense, que comecei a notar em falantes favelados cariocas desde os anos 90. E que, como tudo, chegou de leve às gerações seguintes da classe média asfaltada. Uma amiga inteligente me perguntou, ao me ver com o livro na mão: "São favela tales?", levando o inglês sarcástico de expressões como "favela movie" e "axé music" para a seara da literatura. Curiosamente isso nunca tinha sido feito com Cidade de Deus, de Paulo Lins, ou com Inferno, de Patrícia Melo (livro que quando li, pensei: excelente para virar filme, o contrário de Cidade de Deus. Deu outra). Mas a piada de gênero (literário) não podia nem repercutir sua graça diante da densidade do livro do garoto. Ele escreve bem, tem o dom da escrita - e uma gigantesca exigência quanto à economia de meios. À composição. Geovani pode não ter sacado o que há de gaúcho ou cearense no sotaque de seus mais frequentes interlocutores... leia o texto completo em FB.com/FalaCaetano

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カエターノ・ヴェローゾのインスタグラム(caetanoveloso) - 4月12日 08時13分


Você na cabeça, #GeovaniMartins, já faz umas semanas. Nem sei se você gostou do Trem Azul, ou que noção tem você do componente mineiro no seu som. Sim, som. Penso "por que ele escreve 'rolézim'?" como penso "por que Rosa escrevia 'dôido'?" Idiossincrasias de acentuação. Guimarães parecendo maluco com medo de se ler "doído". E Martins querendo explicitar que no Rio se diz "rolé". Mas doido não precisa de acento e rolézim, pela lei, levaria a tônica para o "lé". Mas algo pode ser mais mineiro do que a desinência "zim"? O fato é que, nos dois casos, não temos dúvida, ao ver as palavras impressas, de como elas soam. Ele tem 26 anos, como meu filho do meio. O qual, por gostar de ouvir Mano Brown falar (eles sempre conversavam sobre disco e neo-disco, quando esse meu filho tinha 18 anos), comentou comigo: "Pai, Mano Brown parece Guimarães Rosa. Inventa formas de falar, usa palavras, constrói frases de um jeito inventivo, bonito". O que, por sua vez, me levou a ler Rosa para Brown, a pedido deste. Lendo o livro do Geovani, muitas vezes pensei nesse nó. O primeiro conto, o do acento agudo, é tão coesamente belo como um desenredo de Rosa. A gente ouve até a subida de tonalidade no final das frases, às vezes quase à gaúcha, às vezes bem cearense, que comecei a notar em falantes favelados cariocas desde os anos 90. E que, como tudo, chegou de leve às gerações seguintes da classe média asfaltada. Uma amiga inteligente me perguntou, ao me ver com o livro na mão: "São favela tales?", levando o inglês sarcástico de expressões como "favela movie" e "axé music" para a seara da literatura. Curiosamente isso nunca tinha sido feito com Cidade de Deus, de Paulo Lins, ou com Inferno, de Patrícia Melo (livro que quando li, pensei: excelente para virar filme, o contrário de Cidade de Deus. Deu outra). Mas a piada de gênero (literário) não podia nem repercutir sua graça diante da densidade do livro do garoto. Ele escreve bem, tem o dom da escrita - e uma gigantesca exigência quanto à economia de meios. À composição. Geovani pode não ter sacado o que há de gaúcho ou cearense no sotaque de seus mais frequentes interlocutores... leia o texto completo em FB.com/FalaCaetano


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2018/4/12

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